sábado, 1 de outubro de 2011

História [parte IV] *

Mas está tudo doido? Sinceramente, eu nem acredito nisto! Eu não vou a lado nenhum! Não acham que 15 dias é demasiado pouco tempo para a minha vida dar uma volta destas? Pois bem, eu acho.
A Mariana aceitou e tentou explicar-me que a mãe estar desempregada só nos ia trazer dificuldades, e por isso era melhor mudarmos de casa, e eu devia entender isso. Mas realmente, entender o quê? Que ia ficar a 200km, ou mais, da cidade onde tenho os meus amigos - poucos mas tenho -, onde está a minha escola, a minha vida? Não, eu não entendo, sinceramente eu preciso de me afastar daqui, mas tanto, por tanto tempo, quem sabe para sempre? Eu não sei se consigo...
Amanhã deve ser o meu último dia de aulas, e sinceramente é melhor levar embalagens de lenços a quadruplicar, vão ser demasiadas despedidas para um dia só. Mas por agora preciso realmente é de dormir e de me mentalizar que vou (re)começar do zero bem longe do que digo amar verdadeiramente.
 (....)
Nem precisei do despertador para acordar, muito menos da minha mãe aos berros porque já estava atrasada, penso que a ansiedade está a mexer comigo, sinceramente penso apenas, porque nunca senti algo do género.
Vesti-me esbeltamente, hoje vamos tirar imensas fotografias e eu quero estar perfeita a nível de todos os mais pequenos pormenores - sempre tive o perfeccionismo dentro de mim -, quem sabe se não será a última imagem que ficaram de mim, quem sabe se quando me voltarem a ver não estarei completamente diferente...
Desci as escadas muito vagarosamente, sabia que ainda era cedo e não queria assustar ninguém até porque lhes queria preparar o pequeno-almoço.
A minha irmã foi comigo até à paragem e quando lá chegámos, em tom de encorajamento, deu-me um beijo na testa e disse:
- Tem calma princesa, vai tudo correr bem.
Mas inesperadamente, agora que a minha vida se estava a compor eu tinha mesmo que ir embora? Isto por um lado até que me revoltava…
Depois de todas as despedidas pela qual já tinha passado naquele dia e de todas as lágrimas derramas, faltava a mais dolorosa.
Eram 16h30 quando o João já esperava por mim cá fora. Saltei para o colo dele esquecendo todo o mundo que nos rodeava, esquecendo até que não iria ter tantas oportunidades do fazer a partir de agora. Naquele momento era só eu e ele. Sussurrou-me ao ouvido as palavras que eu mais precisava de ouvir naquele momento: « vais ser sempre a minha melhor amiga, Mafalda, e se nem a morte nos vais separar também não vai ser a distancia a fazê-lo, ela só vai separar os nossos olhares, pois os nossos corações estarão eternamente juntos, tal como nós (...) ».
As lágrimas queriam saltar-nos dos olhos mas ambos não deixámos, preferimos manter os sorrisos como prova da felicidade que tínhamos guardada por cada momento que passámos, e aproveitar cada um dos nossos últimos segundos, fisicamente juntos.
- Mafalda....- ouvi a voz da Filipa chamar-me enquanto senti um toque no ombro.
- Filipa... – olhei enquanto todo o meu sorriso desapareceu entristecendo-me.
- Ouvi dizer que vais embora, é verdade? - perguntou.
- Sim vou, para aproximadamente 200km daqui, não te preocupes, não me irás ver em breve - afirmei.
- Bem,- começou de cabeça baixa -  vou ter saudades tuas, apesar de tudo, foste sempre a minha melhor amiga, e o melhor de mim. - umas pequenas gotas começaram a escorrer-lhe pela face - devo-te mais de metade das coisas boas que tenho hoje, devo-te muitos dos meus sorrisos (...) obrigada por me teres ajudado a crescer, por teres construído o que há de bom em mim, e por teres feito de mim a rapariga mais feliz do mundo enquanto te deixei estares por perto. E desculpa, desculpa tudo o que te fiz sofrer e o quanto te magoei. - Continuou enquanto as lágrimas lhe escorriam cada vez mais intensamente pelo rosto.
- Sabes Filipa, só damos valor às coisas quando as perdemos, agora esquece-me e sê feliz, se conseguires, lutei tanto e esforcei-me tanto. Sabes bem o quanto te amo, mas realmente, agora é tarde demais. Adeus. - Retorqui afastando-me dela e dirigindo-me ao João para lhe dar o último beijo e o último abraço, a minha mãe já estava a minha espera. 
Entrei no carro enquanto as lágrimas, que os óculos de sol escondiam, borravam toda a minha maquilhagem, e com o meu pensamento ocupado com uma simples frase « avisei-te que um dia seria tarde demais, agora aprende a viver sem mim. ». Meti os phones nos ouvidos e ao som de Bruno Mars – Today my life Begins, só pedi para a viagem passar depressa.

Continua *

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