domingo, 6 de novembro de 2011

História [parte V] *

            Nem eu própria me consigo habituar a este ideia, quanto mais os que me rodeiam. Começo a sentir-me como que “despejada” num mundo à qual não pertenço. Vou ter que aceitar, por mais que me custe, que não é fácil integrar alguém num grupo tão unido como esta turma, mas é obvio que eu tal com eles não tenho culpa de estar aqui, não fui eu que escolhi mudar-me. É certo que não estava melhor lá, estava presa ao meu passado, mas mesmo assim à uma parte de mim que tem a certeza que esta não foi a melhor solução.
            Procuro todos os corredores da escola - que é bem maior que a outra -, e achar uma sala no meio de tantas não é nada fácil, principalmente quando corro contra o tempo que demorei a arranjar-me de manhã, mas não tenho culpa, são muitas caixas, não consegui arrumar tudo e por vezes consigo mesmo demorar uma eternidade a achar uma peça de roupa.
            Os meus colegas vão chegando um após o outro, percebo a forma como me olham de esguelha, como se eu fosse um mendigo a pedir esmola, mas neste momento apenas queria pedir-lhes compreensão, sou uma vitima como eles no meio disto tudo e não queria de forma alguma tornar-me uma intrusa, porém não acredito que aqueles olhares só transmitam o quanto são cruéis e frios, não quero pensar dessa forma.
            A directora de turma pediu-me para ir tirar umas fotocópias com a desculpa de eu precisar de conhecer melhor a escola, quando eu sei bem que aproveitou a minha ausência para falar com a turma sobre mim. Não resisti e fiz aquilo que os meus pais me disseram milhares de vezes para nunca fazer: escutei o diálogo da professora com a turma à porta. Ouvi a professora explicar-lhes que eu precisava deles agora, que estava numa fase difícil da minha vida, que eles eram os primeiros que me tinham que ajudar, afinal de contas era na escola junto deles que passava mais de metade do meu tempo e pediu-lhes que viessem falar comigo para tentarem entender a espectacular pessoa que ela dizia que eu era. Enfim, nem eu própria acredito nisso, quanto mais eles!
            Bati à porta e entrei, entreguei as fotocópias à professora e sentei-me no meu lugar fingindo não ter ouvido nada daquilo.
            Saí da sala esperando que ninguém tenha dado ouvidos à professora e dirigi-me para casa, tinha que mandar um e-mail ao João para saber como é que estavam as coisas por lá sem mim e de uma certa forma evitar estar em sítios da casa acompanhada pela minha família, o ambiente estava sem dúvida alguma insuportável. 

Continua (...) *

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