Faltou a coragem, eu assumo. Faltaram as palavras e a pontuação certa. Foi como se quisesse ficar muda para o mundo sobre este assunto. Não por medo, nem por ódio, apenas por amor. Pelo amor que guardo de ti que até hoje não permitiu que assumisse que te perdi. Pelo amor daquela que cresceu do teu lado e que em poucos anos inverteu os papéis e passou a ser ela a ensinar-te o certo e o errado. Pelo amor de sobrinha e afilhada. E pela saudade. Pela saudade eterna.
Hoje rendo-me à linha da vida e compreendo o tamanho da tua, era tão pequena. E tenho que te relembrar que tiveste grande influência nesse comprimento. É tio, eu avisei-te tantas vezes... Mas agora, de pouco ou nada me serve porque a tua ausência aumenta um vazio dentro de mim, e eu juro que nunca pensei dizer isto, mas fazes-me tanta falta, nem que fosse só para te lembrar que não te queria a fumar dentro de casa, que devias procurar um emprego, ou que queria que fosses tirar a carta de condução. Mas talvez tenha sido melhor assim.
Um mês e meio é pouco tempo para eu estar verdadeiramente mentalizada. Talvez o meu subconsciente ainda ache que estás num navio, como estiveste tantas vezes. És o meu marinheiro. E sabes que apesar das tuas mil tentativas falhadas em ensinar-me a nadar, eu gosto do mar tanto quanto tu. E se navegas eternamente nele, deixa-me recordar-te que vou navegar a vida e que vou ancorar somente quando sentir que é o melhor para mim.
Fumaste a vida. Fumaste-a completamente. Só espero que te tenha dado prazer. Que tenhas partido satisfeito, sabes que sempre quis o melhor para ti.
Agora faço-te uma promessa, cumprirei o que sempre me pediste: nunca te tomarei como exemplo. Prometo que terás o maior orgulho do mundo na tua afilhada e que daí de cima vais cuidar de mim, como um tio cuida da sua sobrinha e como um padrinho cuida da sua afilhada.
Perdoa-me por não te ter dito isto mais vezes, mas eu juro que te adoro.