quinta-feira, 22 de setembro de 2011

História [parte I] *

O meu relógio do pulso marcava as 18h33, quando o toque da campainha suou finalmente. Acho que já estava à uma hora e meia a contar os minutos para aquela maldita aula terminar e só agora chego à conclusão que a minha querida irmã ainda não perdeu a estúpida mania de adiantar todos os relógios três minutos, e repetidamente usa de argumento o facto de fazer esta estupidez para prevenir atrasar-se. Enfim, a Mariana vai ser sempre estranha, realmente, porquê três minutos? afinal de contas é um mínimo tempo que só tem significado quando estou frente a frente àquela mulher horrível que nos obriga a tratá-la por « Teacher Fernanda », que verdadeiramente já devia era estar na reforma à dez anos, porém ainda tenta que eu aprenda aquela disciplina que já me atormenta à mais de cinco anos: inglês, odeio-te muito !
Só tinha autocarro para casa às 19h, o que me deixava uma bela de uma meia hora para me isolar de toda aquela confusão da cidade, aquelas pessoas que corriam as ruas cima e baixo o que sinceramente incomodava todos os meus pensamentos, mas agora estava só eu naquele beco que pouco era frequentado, e sentada nas escadas do costume, com os phones nos ouvidos ia reflectindo sobre a forma como estava a minha vida ao som de Adele - Someone like you. Limpo as lágrimas como já se tornava um gesto habitual e sigo em direcção à paragem.
Mantenho-me igualmente deprimida no banco do autocarro, deixando toda a mágoa ali para levar um sorriso suficientemente falso para enganar toda a minha família, aquele dia estava decididamente bem mais difícil que os que tinham ficado para trás.
Ela hoje tinha mesmo tido a cara de lata de gritar « melhor amiga » no átrio da escola como se eu lá não estivesse, e ainda foi capaz de saltar para o colo daquela rapariga que hoje trata como me tratava a mim à precisamente uma semana atrás e até age com ela como se eu nem existisse, ela tinha-me prometido que íamos ser melhores amigas para sempre, que treta de promessa, sinceramente.
Era notável que o meu cérebro andava demasiado ocupado, que até da chave de casa me esqueci. Toquei à campainha e a Mariana veio abrir:
- As chaves, Mafalda? - questionou.
- Ficaram em casa...
- Entra e prepara-te que a mãe quer falar contigo.
- Comigo? - questionei-a já em tom de preocupação, a voz dela começava a fazer-me tremer.
- Sim, despacha-te ! E já agora, esse relógio não é meu?
- É. Já tinhas saído de manhã quando ia para te pedir... - expliquei-me.
- Vá, entra e apressa-te ! - ordenou com uma voz tão autoritária que só me apeteceu dizer-lhe que o facto de ser mais velha não fazia com que pudesse mandar em mim.
Dirigi-me à minha mãe para saber o motivo da tão esperada conversa.
- Olá Mãe, a mana disse-me que querias falar comigo.
- Quero sim, Mafalda. A tua directora de turma ligou-me à bocado muito preocupada contigo.
Engoli em seco, vi a minha vida a andar para trás, sou mesmo má actriz, estava feita.
-Preocupada? Preocupada com quê? - interroguei tentando parecer admirada.
- Ela diz que não andas bem à uma semana, que andas desinteressada, que te andas a isolar e que já nem andas com a Filipa. O que é que tens, Mafalda?
- Bem, eu e a Filipa estamos chateadas, mas não quero falar disso agora, estou cansada, vou dormir.
- Não jantas? - perguntou, agora ela com um tom de preocupação.
- Não tenho fome. - virei costas e ausentei-me da cozinha, só queria o meu quarto, o meu espaço, trancar-me lá dentro e poder deixar escorrer as lágrimas sem o medo de alguém me criticar.
Subi as escadas com uma certa velocidade, estava mesmo com as lágrimas a querer saltar-me dos olhos. Fechei a porta, peguei num pequeno papel e num lápis de carvão, deitei-me sobre a cama, e escrevi « tenho saudades tuas, melhor amiga ». 
Enquanto as lágrimas molhavam o pequeno pedaço de papel ouvia alguém a bater à porta:
- Sim.... - disse num tom baixo e ainda a soluçar.
- Abre Mafalda, quero falar contigo. - pediu a Mariana.
- Falamos amanhã, agora preciso de estar comigo mesma, boa noite irmã. - Despedi-me dela e ouvi os passos dela a afastar-se da porta, pousei a cabeça sobre a almofada, só queria aquela noite de sono que já não tinha a alguns dias.


Continua (...) *

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