- Sim mãe, vou já... - respondi-lhe com a voz de quem nem no facto de se por de pé queria pensar.
Preparei-me bastante calmamente, a vontade de ir para a escola sinceramente não era nenhuma, mas enfim, tinha mesmo de ser, não podia chumbar por faltas por uma pessoa que nem me merecia.
Apanhei o autocarro das 7h50 e fiz nele mais uma daquelas deprimentes viagens até à escola.
Ainda tive de andar mais 5 minutos desde a paragem à tão desejada (ou então nada mesmo) escola.
Como sempre segui de cabeça baixa tentando isolar todo o mundo que me rodeava.
Só às 8h20 cheguei finalmente à escola, e ainda tinha 10 minutos para me dirigir à sala onde a disciplina de matemática me esperava dentro de minutos.
Apesar de ser uma escola nova já tinha tido algum tempo para saber onde estavam as salas, e dei com a sala 13 em pouco tempo, sentei-me junto à porta, tirei o caderno de filosofia e comecei a escrever. As palavras saíam tão naturalmente como se me tivessem a fazer um ditado, mas neste caso era o meu coração que ditava.
Comecei a ouvir o riso da Filipa - aquele riso não enganava ninguém, eu reconhecia-o a metros de distância, ouvi-o tantas vezes bem junto a mim (...) -,ela vinha a subir as escadas com a sua nova melhor amiga, e aqueles sorrisos de uma para a outra metiam-me nojo, então o facto de virem de mãos dadas deixava-me ruída de ciumes. Eu tinha de fazer alguma coisa...
Decidi esperar até à hora que saíamos para ir falar com ela, isto não podia ficar assim.
Eram 17h quando tentei procura-la à porta da escola, e vi o João Pedro - « que eu saiba o namorado dela não vem ter com ela à quarta-feira » - questionei-me.
Parecia mal não o ir cumprimentar, afinal de contas não tinha culpa da atitudes estúpidas que a namorada ultimamente tomava:
- Olá João...
- Olá Mafalda, ainda bem que te vejo !
- Então rapaz?
- Vamos para outro sitio...
Pegou-me na mão e levou-me até ao beco que eu frequentava quando me cria encontrar completamente com a solidão.
- As coisas com a Filipa não estão nada bem, Mafalda. - afirmou com o tom mais desiludido que alguma vez tinha ouvido vindo dele.
- Sabes que entre mim e ela não estão melhor, mas vá, queres contar-me? - perguntei-lhe.
- Oh Mafalda, tu sabes. Eu sempre dei tudo por esta relação, sabes bem o quanto lutei por ela, e penso que sabes que a amo mesmo e que faço de tudo para ser o namorado perfeito. Mas ela não se esforça nem um bocadinho! Ultimamente são discussões atrás de discussões. Tudo por causa daquela pessoa (...) aí tu sabes! - disse enquanto entrelaçava os dedos das mãos uns nos outros e se esforçava para não deixar uma lágrima cair.
- A Sofia? - questionei.
- Humhum - acenou que "sim" com a cabeça.
- Pois, nem vale a pena João...
- Vou falar com a Filipa e isto acaba aqui.
Levantámos-nos e dirigimos-nos a ela. Deixei-o falar primeiro, ele tinha um assunto mais importante que eu, e seria a atitude mais sensata da minha parte, esperar calmamente até ele se afastar.
Deixou-a lavada em lágrimas, as verdades doem sempre, mas pronto, ela tinha que abrir os olhos de alguma forma, e aproveitando a forma como ela estava aproximei-me:
- Filipa...precisamos de fala - chamei.
- Já tive a minha dose de hoje e dos próximos meses Mafalda, além demais, a Sofia está à minha espera.- retorquiu.
- Está bem então, acabaram-se os meus esforços, adeus. - despedi-me.
- Adeus. - respondeu.
As lágrimas não aguentaram até ao meu quarto, e escorreram enquanto eu subia as escadas em direcção ao mesmo, juntamente com os soluços o que chamou logo à atenção da minha atenciosa irmã.
Voltei a trancar-me e a recusar-me a falar com ela, não fazia questão de lhe contar nada, não agora, nem hoje, talvez num dia mais fácil que hoje eu desabafa-se. Porém, já sabia que mais tarde ia ter de enfrentar a minha família porque não iam tolerar que voltasse a faltar à hora do jantar, mas por agora, ia continuar o texto que tinha começado de manhã, quem sabe não cumprirei o que disse à Filipa e talvez lhe entregue este texto para a reflectir, nem sei...
Continua *
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