Pouco depois da mãe sair para o emprego, a Mariana chegou ao quarto com um enorme pequeno almoço, argumentando que me tinha que alimentar para tomar os comprimidos e ficar boa depressa, e já como esperado, perguntou-me:
- Vais-me contar hoje, Mafalda?
- Humhum- acenei com a cabeça enquanto bebia o doce sumo de laranja.
- Estou preocupada contigo, sabes disso. O que é que te fizeram, princesa? - ela nunca tinha sido tão meiga comigo, o que me deixou um tanto ou quanto admirada.
- Foi a Filipa, mana, enfim eu vou-te contar tudo, só assim vais perceber. Eu e a Filipa éramos melhores amigas à um mês e as coisas começaram a dar para o torto sem eu entender bem o porquê (....) agora ela é melhor amiga da Sofia e é como se o nós nunca tivesse existido - expliquei com as lágrimas nos olhos.
- Sabes que estou aqui, e se realmente te fez isso é porque nunca te amou realmente, e se te continua a negar mesmo sabendo que foi parva e não faz nada para mudar, então amor, ela não te merece mesmo. Mas tu és forte e eu sei que vais ficar bem depressa. - apoio-me com um sorriso tão grande que senti pela primeira vez que verdadeiramente estava do meu lado.
- Obrigada mana, mas falta contar-te o que se passou com o João Pedro....- continuei.
- Conta, então.
Contei-lhe tudo o que o João me tinha dito no dia anterior, e disse-lhe como ele tinha deixado a Filipa.
- Mafalda, talvez não te pareça muito bem, mas ele precisa de ti agora e tu dele, nestas mudanças da Filipa quem saiu mais magoado foste tu e o João. Fala com ele e apõem-se um no outro.
- Vou fazê-lo. Mais uma vez, obrigada Mariana - agradeci.
- Já sabes que estou aqui, apesar de todas as nossas brigas és a minha irmã, sangue do meu sangue e eu amo-te! - exclamou deixando-me corada.
- Eu também... - respondi.
Pegou no tabuleiro e levou-o lá para baixo deixando-me descansar.
Adormeci pouco depois e fui acordada pela minha irmã a dizer que a temperatura tinha subido outra vez e eu tinha que tomar mais medicamentos, e disse-me também que tinha uma pessoa na sala que queria ver-me. Perguntei-lhe quem era mas não obtive nenhuma resposta, então disse que podia mandar a pessoa subir. Fiquei sem palavras quando percebi que era o João.
- João? - questionei. Com a febre que estava podia estar a ter alucinações.
- Sim Mafalda, sou eu. Soube que não foste à escola hoje porque estavas doente, fiquei preocupado.
- Obrigada por teres vindo, mas eu já estou a ficar melhor. - disse sorrindo.
Passámos uma hora e pouco na conversa, sinceramente acho que aquilo serviu para me acalmar, para me animar e ainda para nos conhecermos melhor, a Mariana tinha razão, realmente.
Despediu-se de mim dando-me um beijo na testa e desejando-me as melhores, e poucos minutos depois de sair, mandou-me uma sms: « fica bem rápido, pequenina ♥ ».
Sorri e tomei uma decisão: Eu não podia continuar assim, morta psicologicamente por alguém, eu iria ter de seguir em frente de qualquer forma.
A febre já não estava tão alta, ouvi a minha mãe a chegar e decidi levantar-me e fui ter com ela:
- Estás com outra cara ! - observou.
- Sim, já me sinto melhor. Vamos comprar as minhas sapatilhas? - questionei.
- E a febre? - perguntou.
- Já estou melhor mãe, muito melhor, a tua filha está como nova - sorri.
- Então vamos mais logo, no final da tarde. - respondeu.
Subi até ao quarto e sentei-me na secretária para pintar as unhas - hoje queria fazer algo diferente e trabalhoso -, sinceramente já estava na altura de voltar a cuidar de mim, afinal de contas agora era eu o centro do meu mundo, e tinha outros mundos para conquistar.
Continua (...) *
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