segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

História [parte VI] *


Passaram duas semanas e nem notícias do João. Já tentei ligar-lhe, mas a mulherzinha do outro lado lá me diz «o número para o qual ligou, não está atribuído (...)» e blá, blá, blá. Começo e ficar preocupada e só espero que esteja tudo bem.        
         Consigo ouvir a minha mãe aos gritos com a Mariana e acho que este ambiente já não é normal e temo que daqui a alguns minutos o meu pai se junte à festa. A Mariana não aceitou bem a ideia do divórcio, mas pior mesmo é saber que estas discussões se devem à minha custódia. A minha irmã está mais preocupada com o meu bem-estar psicológico e com as consequências deste divórcio na minha vida social, tendo em conta que estou em processo de adaptação à nova cidade, por isso eu prefiro manter-me aqui, estas quatro paredes são sem dúvida a minha maior relíquia.
         Deixei de esperar as novidades virtuais do João e deitei-me sobre o colchão mole da minha cama, enquanto durmo não tenho que levar com o mundo real.
         Hoje é dia dos exames médicos. Vou faltar ao teste de francês e se tudo se prolongar como é comum nos hospitais vou faltar a mais aulas, mas nem estou preocupada. Não foi preciso que ninguém me acordasse, pelo menos 'diretamente', fui acordada pela discussão matinal dos meus pais, fico-lhes muito agradecida por este lindo despertador, sem dúvida. Ainda era cedo, liguei o computador na esperança de notícias do João, meti os phones nos ouvidos para me abstrair ao máximo daqueles gritos que se propagavam por toda a casa com origem no quarto dos meus pais, merecia o meu momento de sossego.
         Desci às 8h30 para tomar o pequeno-almoço, tinha os exames marcados para as 9h15.
         A minha mãe foi comigo fazer os exames, e bem, enquanto se fazia o raio-X, a cara do médico começava a assustar-me. No final ele pediu que eu saísse, ficou a falar com a minha mãe e fiquei à espera de novidades na sala de espera. A minha mãe viu-me preocupada mas disse que o médico não lhe tinha dito nada de especial e continuou, dizendo que eu não tinha que ir às aulas de tarde e que podia ficar em casa. Assim o fiz, e já no meu quarto, continuei a reflectir sobre o que podia ter ocorrido dentro daquele consultório na minha ausência, enfim, tenho que esperar quinze dias para ter o resultado dos exames, e só espero que esteja tudo bem e que estas dores sejam passageiras.
            O meu pai chegou a casa entretanto para almoçar, ouvi a minha mãe dizer-lhe que tinham que falar seriamente. Ao inicio pensei que fosse sobre o divórcio mas depois, com as dores que se faziam sentir nos meus pulmões, relembrei-me da consulta e o medo apoderou-se de mim, guiando-me para a porta do escritório, onde eles se encontravam, para poder escutar aquela conversa.
Continua (...) *

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